Ainda jovem, meu saudoso pai viveu uma situação amedrontadora. Contou-nos que certa vez arquitetou uma peraltice daquelas, mas depois ficou em apuros. Na propriedade de um de seus tios havia dois touros selvagens separados por uma longa cerca. Quando se aproximavam da cerca, os animais se estranhavam e corriam de um lado para outro, sedentos para medir a força, em constantes e violentas cabeçadas e chifradas.
Meu pai não suportou o desejo de traquinagem, e, enquanto os touros se distanciaram, abriu a porteira que fazia a ligação entre as duas áreas, enquanto esperava pela volta dos animais, que encontrariam o espaço aberto para a briga. Para assistir ao espetáculo, sentou-se no alto de um dos mourões que sustentava a porteira, aguardando a volta dos touros, que logo apareceram bufando entre as frestas da cerca. Mas ele não esperava pelo risco do erro de cálculo, pois enquanto mediam força, os brutamontes de toneladas às vezes usavam o mourão da porteira para sustentar as trombadas com o traseiro. Meu pai se agüentava como podia, tremendo de medo de ser derrubado daquela madeira fincada na terra, seu único refúgio. Sentia-se como um pássaro em uma vara de bambu solta pelo vento.
Depois de suar muito, de tanto medo, e conseguir sair daquela situação, teria de arquitetar outra saída da enrascada, pois um dos touros quebrou um dos chifres, e seu tio queria, a todo custo, descobrir quem havia proporcionado aquele maldoso espetáculo.
Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas (Is 54.2).
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